O que está acontecendo com a Microsoft? O que houve com ela, pois agora está respeitando mais os usuários? Sentiu a força da concorrência com o Google Android, o Apple Mac OS X, o Linux etc? Viu que está "perdendo o bonde da história outra vez", mas desta vez não tem mais poder de fogo para correr atrás ou usar golpes sujos contra os concorrentes? O mundo da computação mudou tão rapidamente e o modo dela agir levou-a a uma armadilha? Acho que todas as hipóteses acima e mais algumas.
Antigamente a Microsoft desrespeitava os usuários de diversas formas diferentes. Ela se tornou popular não por produtos realmente de qualidade, e sim, por jogadas de marketing e por criar sistemas aparentemente fáceis de serem usados. Ela também se valeu de uma situação de praticamente monopólio. Em parte, ela foi responsável pela popularização do computador doméstico e o grande desenvolvimento do poder computacional. Mas ela negligenciava coisas importantes, como desempenho, economia de memória e segurança.
Uma negligência de segurança grande foi criar os mecanismos necessários para que os vírus por e-mail, que antes existiam como piada, se tornassem realidade. A ideia era facilitar o usuário, mas a que custo? Não pensaram nas consequências, e não limitaram a funcionalidade para ela ser segura.
A cada versão nova do Windows, era uma nova onda de upgrades de hardware. Ou você tinha um bom e caro computador novo, ou não tinha condições de rodar o novo Windows. Foi assim com o Windows 95, com o Windows 98, com o Windows XP e com o Vista. Tanto é que muita gente colocou o Windows XP em computadores que vinham com o Vista, e funcionando mal com ele, e ficaram muito felizes com o desempenho. O Vista também é considerado por muitos como sendo a pior coisa que a Microsoft lançou desde o Windows Millennium, se não pior do que ele.
Com sistemas cada vez mais pesados, ela criou a necessidade de upgrades (ou talvez só incentivou), de existirem máquinas cada vez mais rápidas, e aumentos de memória e espaço em disco.
Nesta época quase toda a computação pessoal era baseada em computadores de mesa, e um pouco de notebooks, que eram muito caros. A principal exceção eram os Palms, que de certa forma já eram uma dica do que estava sendo armado para vir adiante, uma computação mais pessoal ainda.
O poder da Microsoft, e talvez mais a arrogância dela, eram bem grandes quando ela lançou o Vista, em meados da década de 2000. Era um sistema muito mais pesado do que o Windows XP. As máquinas na época, mesmo as mais baratas, eram capazes de rodar muito bem o Windows XP, mas só as mais caras rodavam bem o Vista. Os grandes recursos de segurança anunciados eram contra o usuário, para impedir que ele violasse direitos autorais (Leia aqui, em inglês.). O 3D era pífio (Veja este vídeo.). Ela impôs muitas condições, inclusive criptografia nas controladoras de vídeo, para que os fabricantes de hardware tivessem o selo de hardware aprovado para o Vista.
E o que aconteceu? O Vista só foi "sucesso" de vendas por que a Microsoft retirou forçadamente o Windows XP do mercado, impedindo que os vendedores de computadores fornecessem computadores com o XP. Eu acredito que, se não fosse isto, o Vista teria sido um grande fiasco. A maioria dos computadores com o Vista sofreram "upgrade" para o Windows XP, tanto é que se vê até hoje muitos computadores com o Windows XP e os novos com Windows 7, mas quase nenhum com o Vista.
O que deveria ser uma grande arma contra a pirataria se tornou um grande incentivo à pirataria do Windows XP, pois acredito que boa parte dos Windows XP que substituíram os Vista instalados de fábrica são piratas, mas a Microsoft não pode se queixar muito, pois ela recebeu o pagamento pelo Vista OEM em muitos dos casos.
Me lembro da grande corrida às lojas pelo Windows 95 no dia de seu lançamento, tal como acontece nos lançamentos da Apple. Mas o Vista foi plenamente ignorado. O mundo já estava mudando, e a Microsoft perdendo o seu poder, mas ela ainda não tinha se dado conta disto.
Para piorar, um dos maiores fabricantes de notebooks do mundo, a Asus, teve uma sacada. Se os menores hardwares na época eram capazes de rodar bem um Windows XP (Intel Celeron 900 MHz rodando a 630 MHz, com 512 MB de memória e 4 GB de disco), por que não lançamos um sub-notebook com estas características, bem leve, bem barato, que caiba em uma bolsa feminina? Assim nasceu o Asus Eee PC. Nesta época a Microssoft impedia a venda do Windows XP, impondo o Vista. O Vista precisava de 512 MB de memória para se arrastar, ocupava muito mais de 4 GB de disco, e ainda exigia muito mais do que o processador que vinha neste sub-notebook.
O que pareceria ter sido um grande fiasco da Asus, em boa parte por causa da Microsoft, foi um grande sucesso. O computador em si tinha grandes qualidades para o sucesso, mesmo com pouco poder de processamento. Ele apresentava um novo nível de computação, algo mais pessoal e portátil que um notebook comum. A Asus o lançou com uma distribuição de Linux, que alguns usuários usam até hoje, e forneceu todos os drivers para quem quisesse instalar o Windows XP nele, caso tivessem um Windows XP com licença para instalar. O Windows XP foi instalado na maioria deles, mas vocês acham que a Microsoft recebeu por cada um destes Windows XP instalados? Eu duvido. Tinham lojas que davam a opção dele já sair com o Windows XP instalado.
A Microsoft acabou cedendo e fornecendo o Windows XP para este sub-notebook, mas só depois de mais de 1 milhão deles vendidos com Linux. Não só a Microsoft perdeu uma fortuna em licença, como também chamou a atenção para o Linux. Uma década antes, em uma jogada destas, a Asus teria sido obrigada a engavetar o projeto.
O sucesso deste sub-notebook foi tão grande que ele criou uma classe nova, o netbook. Pode-se dizer que foi mais um passo para a computação mais pessoal, e os dados menos armazenados localmente. Cerca de um ano depois os demais fabricantes de computadores estavam seguindo a Asus, lançando o seus modelos de netbooks, só que mais poderosos, menos minimalistas, e a Asus também lançando novos modelos bem mais poderosos.
Com o desastre do Vista, não admitido oficialmente, mas só indiretamente, a Microsoft adiantou em alguns anos o seu sistema seguinte, o Windows 7. Ela concertou muitos dos erros, inclusive o maldito erro 815 de PPPoE, o consumo excessivo de memória e processador etc. O Windows 7 é basicamente um Vista consertado, e não algo novo como era o plano inicial. Ele foi antecipado em alguns anos para encobrir, substituir, o desastroso Vista.
Neste tempo a Apple ganhou mais força ainda, com o Mac OS X, e outros acertos. Parece que a imitação de alguns recursos e nomes da Apple por parte da Microsoft chamou a atenção para a Apple. A Google lançou o Android. Estes dois entenderam que estamos entrando na era da computação mais portátil, mais íntima, mais pessoal, e os computadores de mesa estão perdendo lugar. Já faz algum tempo se vende mais notebooks do que desktops.
Os computadores de mesa sempre existirão, mas serão para pessoas que precisam de mais poder de processamento, de mais capacidade de disco, de mais capacidade de expansão, e a um preço razoável, não necessitando da mobilidade de um notebook/netbook/tablet/PDA/etc. O Vista foi um sistema pesado feito com os desktops e notebooks novos em mente, nada de computadores antigos, e de poucos recursos.
Depois vieram as novas gerações de smartphones, de netbooks, surgiram os tablets etc. Eles são equipamentos de menor poder de processamento, menos memória, menor tamanho, muito mais leves, mais práticos, e em muitos casos, mais baratos. Surgiu um novo paradigma. Para que ter um computador super-poderoso, pesado e caro, se um mais leve, menos poderoso, mais barato (nem sempre) pode dar tanta, ou mais, alegria de usar, atender as suas necessidades, e estar mais perto de você quando necessário? Eu me lembro de ter escrito boa parte do meu livro no metrô e na praça de alimentação de um shopping center usando um Palm IIIc, e fazendo a redação final no meu computador desktop. Isto foi em 2004, e de certa forma, já era o indício de uma revolução que estava se armando.
Um dos grandes problemas de equipamentos portáteis que usam bateria, tal como a nova onda de computação dita, é a durabilidade da bateria. Então, quanto mais poder de processamento, mais bateria gasta, quanto mais memória, mais bateria gasta, quanto mais processa, mais bateria gasta etc. Instalar mais bateria implica em maior tamanho e peso, portanto menos portabilidade, e também em mais custo.
Lendo um artigo do blog da Microsoft descobri uma coisa interessante sobre a nova postura deles. Agora pensam em consumo de memória, de processador e de bateria, em usuários de máquinas antigas etc. Eles pensam no Windows 8 para também ser usado em plataformas menores, em tablets etc. Eles pensam dele ser usado em computadores que as pessoas já possuem a alguns anos, e não mais forçar uma nova onda de upgrades de hardware. Isto é uma postura nova, e correta deles. É uma forma de respeito que eles não tinham. Acho que não são mais os todos poderosos para impor uma nova onda de upgrade, pois seria suicídio, e talvez reconheçam isto.
De certa forma, o artigo prova o que os usuários de Unix falam a muitos anos, que o Windows é "inchado" (Uma pessoa falou sobre isto nos comentários do artigo.). E uma outra curiosidade, muitas das coisas que estão implementando no Windows 8 já existem a muitos anos nos Unix, sendo que algumas a décadas.
Para quem não lê inglês, tem um artigo em português sobre o artigo do blog aqui.
Acredito que a Microsoft ainda tem muito a aprender, mas ao ler o artigo no blog dela já me mostrou que finalmente estão aprendendo algumas coisas importantes.
Então me explica isso aqui:
ResponderExcluirhttp://www.theregister.co.uk/2011/09/26/uefi_linux_lock_out_row_latest/
Será q eles estão mesmo se redimindo ou apenas sendo mais sorrateiros em suas estratégias de dominar todos as CPUs do mundo (e seus usuários e bolsos)?
Como disse no último parágrafo:
ResponderExcluir"Acredito que a Microsoft ainda tem muito a aprender, mas ao ler o artigo no blog dela já me mostrou que finalmente estão aprendendo algumas coisas importantes."
Ela só está começando a aprender... Ela vai tomar ainda muitas cacetadas...
Podem estar melhorando o Windows por questão de sobrevivência, e no caminho tentar dominar o mundo.
ResponderExcluirEste artigo é sensacional e trata do que está acontecendo dentro da Microsoft, como ela se engessou, como ela se tornou o que ela tanto criticava:
ResponderExcluirhttp://www.vanityfair.com/business/2012/08/microsoft-lost-mojo-steve-ballmer
Este artigo me leva a crer que o futuro da Microsoft é mais decadência.