Uma foto e uma história - 5

Em geral, toda a imprensa vai embora ao final dos eventos. Quase ninguém fica. Na realidade, muitos vão embora antes mesmo do final do evento, e acho que isto aconteceu na Décima FLIP (Feira Literária Internacional de Paraty) em 2012. Eu estava na cidade, e fiquei. Fotografei o show de encerramento (Não me lembro de ter visto imprensa por lá.) e parte do desmonte do evento. Tirei algumas fotos interessantes, inclusive esta abaixo.

Eu vi os operários levando em um carrinho diversas divisórias, então resolvi fotografar. Na primeira foto um operário até acenou, mas tinha a interferência da estrutura de uma tenda, a da livraria, e eu estava sob ela. Não estava "limpa", não tinha uma visão limpa.

Vi que passariam pela tenda, e teria uma boa chance de fotografar imediatamente depois de passar atenda. Quando passavam por mim, vi o que estava no topo da pilha, e resolvi que isto tinha que aparecer, pois seria muito simbólico, a partida da FLIP, o desmonte da Décima FLIP.

Com a prática o fotógrafo pensa nas coisas sem perceber, rapidamente, sem fazer muito esforço. As coisas passam a fazer parte dele, tal como dirigir, nadar e andar de bicicleta é para alguns.

Eu coloquei a lente em 18mm (Eu usava uma 18-105mm.), o maior ângulo de visão que a lente aceitava. resolvi enquadrar o fundo também, a Igreja da Matriz, as tendas do outro lado do rio etc (Lembre-se: contexto, contexto e contexto.), tudo de um ponto alto de visão, o que era necessário para pegar o topo do carrinho. Só tinha uma chance, pois não queria atrapalhar o trabalho, interromper o trabalho, pedir para encenar e nada disto. Queria real, natural, verdadeiro, o que realmente acontecia.

Segurei a câmera no alto, estimando o ângulo de visão da lente. Não lembro se cheguei a usar o live view, mas posso ter usado, porém o LCD não é muito útil durante o dia, e em outras situações de muita claridade.

Fiz a foto. E tive sorte.