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domingo, 24 de julho de 2011

Comentários sobre uma imprudência

Li o artigo no UOL sobre a batida do Porsche, dirigido pelo  empresário Marcelo Malvio Alves de Lima, que matou a advogada Carolina Menezes Santos em São Paulo. Fiquei indignado com algumas coisas, entre elas o advogado do motorista do Porsche dizer que não tinham condições do carro atingir 150 Km/h em 200 metros.

Como estudei engenharia (mesmo não tendo terminado o curso), resolvi fazer as contas.

S=Si+Vi*t+(a*t^2)/2

Se Si = 0 e Vi= 0 (partiu de um sinal onde estava parado), temos S=(a*t^2)/2 e simplificando que este carro acelere linearmente (Desconsiderando o arrasto aerodinâmico etc.) 10 m/s^2.

S=200=(10*t^2)/2 => 400=10*t^2 => t= sqrt(40)

Isto implica que percorre 200 metros, acelerando, à partir da velocidade zero, em 6.3 segundos. Como V=a*t, ele estaria a 63 m/s, o que equivale a 227 Km/h aproximadamente. Em outro artigo que li falava em 240 metros de distância, o que daria quase 7 segundos e quase 250 Km/h, segundo as equações acima.

Agora, considerando que o arrasto aerodinâmico limita a velocidade final e a aceleração em velocidades altas, e a aceleração dele parece ser pouco menor que 10 m/s^2 (de 0 a 100 em pouco mais de 3 segundos (segundo o que vi numa matéria na TV sobre o acidente) e 100 Km por hora é aproximadamente 28m/s), ele pode realmente ter batido a 150 Km/h, ou até um pouco mais. O advogado dele pode estar falando besteira quando fala que este carro não chega a 150 Km/h em 200 metros. Não consegui achar o modelo do carro dele, mas pelas fotos do acidente parece ser um dos modelos 911. Achei uma tabela de aceleração de modelos de Porsche, onde tem vários modelos 911 com acelerações diferentes, e note que ela está desatualizada. Na Wikipedia tem este artigo com dados mais recentes mostrando modelos mais potentes ainda. Portanto o advogado dele tem que ter cuidado com o que fala.

O cenário
 
A velocidade de 144 Km/h são 40 m/s. A velocidade de 18 m/s é compatível com avançar o sinal com cuidado de noite, que equivale a 5 m/s. O limite da via é de 60 Km/h, i.e., menos de 17 m/s, segundo o artigo no UOL mencionado acima. Se ele estivesse dentro deste limite, pela largura da transversal da via dele e a distância da banca  para a esquina, ele teria tempo de ver e reagir, e a motorista também. Acho que teria mais de 1 segundo para se verem e reagirem. Mas com ele a 40 m/s, ambos devem ter tido menos de meio segundo para se verem e reagirem.

Acho que a perícia tem que determinar qual era a velocidade dela, não só a dele, e montar uma cadeia de eventos, com os tempos que tiveram, ângulo de visão etc. Podem montar o cenário com e sem a banca de jornal. Acho que mesmo sem a banca de jornal ela teria tido muito pouco tempo de entender quão rápido ele vinha e reagir a isto, pois nenhum motorista comum no Brasil está habituado a ver carros à estas velocidades.

Aliás, mesmo que ela tenha visto o carro dele, acho que ela não teve tempo para entender a velocidade que ele vinha, e se ela viu pelo outro lado da banca, ela deve ter visto o Porsche com uma velocidade mais baixa do que a que ele chegou até ela, pois pode ser que ele ainda estivesse acelerando.

A imprudência dela de avançar o sinal, para, sendo prudente, não dar bobeira para assaltos, em parte é desculpa que muitos usam para não perder tempo com sinais de madrugada quando não vem ninguém. É uma imprudência esperada, e é um dos motivos para se andar mais devagar de noite e ter cuidados extras nos cruzamentos. Ele deveria ter levado em conta este cuidado extra. Ele deveria levar em conta que aquela não era pista para andar nesta velocidade. Não tinha um asfalto perfeito para andar nestas velocidades. Ele deveria levar em conta pedestres que atravessam repentinamente e que ele não teria chance de parar, ou sequer reagir, em um caso destes.

Ele é o maior culpado, não importando se ela avançou ou não o sinal. Ele não tem a desculpa de que não conhecia as equações de velocidade que coloquei acima, pois ele é engenheiro. E se ele alegar que não tinha noção, o CREA tem que cancelar o diploma dele, pois estas equações fazem parte do curso de engenharia e das provas de vestibular para engenharia. Ele tinha a obrigação de ter noção das consequências destas velocidades.

Quanto de culpa ela tem? Acho que a perícia tem que determinar qual era a velocidade dela, para saber se ela avançou o sinal em uma velocidade compatível, ou simplesmente passou direto ignorando o sinal.

Por que ele inventou a desculpa de assalto para acelerar tanto? Por que ele sabe que a situação dele, quanto à velocidade, é indefensável. E parece ter testemunha de que não houve este assalto. O primeiro bombeiro que atendeu ele, segundos depois da batida, estava parado ao lado dele no sinal, e testemunhou a aceleração e o acidente, segundo a matéria que vi na TV.

Se o advogado dele falar que ela deveria conhecer as leis de trânsito, por ser advogada, devem responder que o cliente dele deveria conhecer as leis da Física Newtoniana, pois é engenheiro.

Observação importante

Eu não tenho acesso aos dados em primeira mão, tal como o delegado do caso, os peritos etc, tem acesso. Não tenho o modelo exato do Porsche. Não tive acesso às testemunhas. Não conheço o local. Etc.

Tudo aqui é baseado em conhecimentos meus de física, em algumas pesquisas pela Internet, nas matérias que vi na TV e nos sites de notícias. E faltam muitas informações. Posso estar me baseando em algumas informações erradas, mas mesmo que as contas não sejam exatas, você não joga um carro longe com uma batida em baixa velocidade. No máximo você arrasta ou gira o carro.

2 comentários:

  1. João, acho que não é somente para o motorista saber sobre física newtoniana. Ele também deve imaginar que 150Km/h também não é permitido no Brasil, e por ser dentro da cidade acho que nem 80Km/h pode ser ....

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  2. A Física Newtoniana dá a escala, e o entendimento, por que é proibido andar na cidade a 150 Km/h, e ele, por ser engenheiro, deveria ter este entendimento.

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