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segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Vale a pena usar leitor de cartões USB 3.0?

O meu computador atual tem algumas portas USB 3.0, então resolvi arriscar comprar um leitor de cartões USB 3.

Tive boas experiências com leitores baratos, e algumas experiências ruins, inclusive um que já veio com defeito, e depois da troca o outro deu defeito em alguns dias. Então, já que o meu computador atual tem algumas portas USB 3.0, então resolvi arriscar comprar um leitor de cartões USB 3.

Nota: Quando eu falar de USB 3, estarei falando das versões 3.0 e 3.1 de USB, quando falar USB 3.0 estarei falando somente da versão 3.0, e quando falar de USB 3.1 é sobre esta versão em específico.

Mas no início achei os leitores de cartões USB 3 muito caros, mas começaram a surgir mais modelos, e a baratearem. Ainda não acho que são baratos, mas acho que estão saindo da faixa de preço de artigo de luxo, especialmente se forem duráveis.

Eu escolhi um dos mais baratos que achei no site Boa Dica, mas vou explicar por que não escolhi o mais barato.

A escolha

O mais barato (em 10/03/2018) era da Multilaser, custava R$ 60,00, pela foto podia ler vários tipos de cartões, e nas especificações falava que a taxa de transferência era de 480 Mb/s. Isto é taxa de USB 2.0, e não de USB 3. Achei que era falso, ou tinha algo de errado. Resolvi não arriscar. Outra coisa que me incomodou sobre ele é que os cartões ficariam para fora e ainda disputariam espaço com outros cabos atrás do computador.

O segundo mais barato podia ler vários tipos de cartões, mas tinha um cabinho. Ele era da Comtac e custava R$ 90,00. Eu já tinha suspeitas com cabinhos, pois poderiam dar problema neles, e isto aconteceu com um leitor que eu tenho. Ele está com mau contato no cabo.

Leitor com cabo pode ter a vantagem de facilitar o uso do espaço atrás do computador, não impedindo que se plugue outros dispositivos, mas este cabo pode sofrer danos, romper dentro, e assim dar algum tipo mau contato, como já aconteceu.

O terceiro era o  FCR-MLG4 da Kingston que teria que plugar atrás do computador, ocupando espaço, e limitado o espaço, como discutido quanto ao primeiro. Ele custava de R$ 98,00 a R$ 106,00. Ele estava limitado aos cartões SD e similares.

O quarto me agradou mais. Era o FCR-HS4 também da Kingston, que achei de R$ 104,00 a R$ 170,00 (Alguns leitores tem uma grande variação de preço, que nos mais baratos chega a ser de 5 vezes.). Ele tinha um cabo longo, que vi que era removível e media 1 metro, portanto ele não ficava pendurado pelo cabo como o segundo. Ele usa cabo padrão USB 3 igual aos usados nos  meus HDs externos USB 3.0, portanto, se o cabo desse problema, eu poderia pegar o cabo de um dos meus HDs e usar nele. Ele não é um leitor de plugar no computador. Ele é um leitor de mesa, para ficar em cima da mesa.

A Sony tinha o MRW-S1 um a R$ 150,00, que, segundo a descrição, lê cartões SD UHS-II e é USB 3.1. Descartei este por ser de colocar atrás do computador, eu não tenho nenhum cartão UHS-II e nem câmera que o use, além do preço.

Descartei o Akasa AK-ICR-17 por custar R$ 170,00, mas achei ele muito interessante. Ele é interno, de colocar no gabinete, e até colocando portas USB 3.0 frontais no computador. Mas teria que verificar se a placa mãe tem suporte a ele.

O Sandisk SDDR-289-X20S é de mesa, e a primeira vez que o vi foi a mais de um ano atrás e achei um absurdo os R$ 270,00 pedidos por ele. Agora achei de R$ 205,00 a R$ 239,00, que ainda acho caro. Não nego que ele é bonito. Mas prefiro algo deitado do que em pé, que pode levar um tombo.

Eu poderia comprar um cartão de plugar atrás do computador e comprar um hub USB 3, mas estaria criando mais uma despesa. Então um leitor de mesa era mais tentador.

Acho que Kingston é mais do que suficiente em matéria de grife para mim. Especialmente se levando em conta que sou um crítico do capitalismo consumista ("Xingamentos" me chamando de comunista nos comentários serão encarados como elogio.).

Mas vale a pena um leitor USB 3?

Eu comprava cartão de memória pelo preço, desde que fosse, pelo menos, Classe 10. Não comprava abaixo da classe 10, mas já cheguei a comprar Classe 6 no início. Uma preferência de marca era Markvision, que está meio desaparecida do mercado.

Não me lembro de nenhum dos meus cartões dar abaixo de 16 MB/s (Acho que a exceção era Eye-Fi.) nos meus leitores USB 2.0 (inclusive o embutido no notebook), mas me lembro que na minha Panasonic Lumix FZ28 a leitura era sempre de 6.2 MB/s quando eu plugava o cabo nela para ler o conteúdo do cartão (Ela era Classe 6 em matéria de protocolo de cartão SD.). Então, desde o início, já valia a pena usar o leitor de cartões.

Com este limite de 16MB/s a 17 MB/s, em se tratando de leitura, não valia a pena comprar cartões caros, que prometia altas taxas de transferência. Por isto comprava sempre usando o critério citado anteriormente.

Mas comprei um cartão Sony que prometia fazer 70 MB/s. Por que comprei ele? Estava barato. Talvez seja o cartão mais rápido que eu tenha. Então resolvi usar ele para fazer uns testes com este leitor.

Como todos os testes, eu tenho que ter um controle, algo de comparação, senão é um teste pífio, nulo. Já citei acima os desempenhos de leitores USB 2.0, mas resolvi testar em específico com este cartão.

Como alguns leitores antigos este blog sabem, sou usuário nível hard de Unix, e uso FreeBSD em casa, então usei algumas ferramentas deste sistema para os testes. Usei o programa iostat, que informa a taxa de I/O (Input/Output, Entrada e Saída) de dispositivos do sistema e o dd que pode ser usado para copiar conteúdo de dispositivos, entre muitas outras coisas. O dd foi usado para ler um dump do cartão e descartá-lo, mandando para um "buraco negro". Os testes duraram alguns segundos, mas já davam os resultados procurados.

Com o cartão mencionado, no leitor USB 2.0, tivemos os seguintes resultados:

root:SUPER[1201] dd if=/dev/da4 of=/dev/null bs=1048576
^C361+0 records in
361+0 records out
378535936 bytes transferred in 18.302450 secs (20682255 bytes/sec)

goffredo:SUPER[972] iostat -c 1000 -d da4
             da4
  KB/t tps  MB/s
 59.68   0  0.00
 64.00 316 19.74
 64.00 316 19.75
 64.00 317 19.81
 64.00 315 19.69
 64.00 316 19.75
 64.00 315 19.67
 64.00 316 19.77
 64.00 317 19.79
 64.00 318 19.85
 64.00 317 19.84
 64.00 317 19.84
 64.00 319 19.94
^C 64.00 317 19.83

Segundo o dd tivemos a taxa de 20682255 Bytes/segundo, o que dá 19.72 MB/s, o que é perfeitamente coerente com as medidas do iostat. (Para informar, o primeiro valor mostrado pelo iostat parece ser uma média global, desde o momento que o sistema foi ligado, ou algo assim, então no caso ele não pode ser levado em consideração.)

E com o leitor USB 3?

root:SUPER[1195] dd if=/dev/da5 of=/dev/null bs=1048576
^C1144+0 records in
1144+0 records out
1199570944 bytes transferred in 16.589160 secs (72310530 bytes/sec)

goffredo:SUPER[969] iostat -c 1000 -d da5
             da5
  KB/t tps  MB/s
 97.59   0  0.00
 128.00 549 68.60
 128.00 557 69.63
 128.00 551 68.88
 128.00 554 69.25
 128.00 552 69.00
 128.00 555 69.38
 128.00 549 68.62
 128.00 555 69.39
 128.00 551 68.91
 128.00 554 69.20
 128.00 551 68.88
 128.00 555 69.37
 128.00 550 68.78
 128.00 555 69.35
^C 128.00 554 69.29

Sim, as medidas foram 3.5 vezes o que fez no leitor de cartão USB 2.0, chegando bem perto dos 70 MB/s alegados pelo fabricante.

O dd fez 72310530 Bytes/segundo, que dá 68.96 MB/s, e que foi coerente com o resultado do iostat.

Mas como isto se reflete quando se vai ler as fotos que estão no cartão?

O teste acima foi de uma transferência bruta, sem levar em conta os arquivos, sem montar o cartão no sistema para que possa ler as fotos nele contidas etc.

Um teste rápido foi copiar umas 10 fotos deste cartão, o que deu no iostat o resultado abaixo:

goffredo:SUPER[965] iostat -c 1000 -d da5
             da5
  KB/t tps  MB/s
  3.80   0  0.00
 32.00   9  0.28
 53.54 935 48.88
 53.91 996 52.44
 48.88 976 46.58
 49.67 1036 50.27
 48.84 857 40.87
 63.22 907 56.00
 63.84 788 49.12
  0.00   0  0.00
^C  0.00   0  0.00
goffredo:SUPER[966]

Pode-se dizer que "nem deu para aquecer", mas já mostra resultados interessantes. Durante a leitura das fotos a taxa mais baixa foi 40.87 MB/s, o que foi mais de duas vezes a taxa de leitura bruta do teste com o leitor USB 2.0, e a taxa mais alta foi de 56 MB/s, o que dá quase 3 vezes.

E o que acontece numa interface 2.0?

Experimentei colocar o leitor USB 3.0 em uma interface USB 2.0. Por que? Em teoria a interface USB 2.0 poderia chegar a 40 MB/s, e o que foi conseguido com o leitor USB 2.0 foi a metade disto. Será que o leitor USB 3.0 usa melhor a USB 2.0?

A resposta foi sim:

root:SUPER[1202] dd if=/dev/da5 of=/dev/null bs=1048576
^C372+0 records in
372+0 records out
390070272 bytes transferred in 11.201201 secs (34823968 bytes/sec)


goffredo:SUPER[974] iostat -c 1000 -d da5
             da5
  KB/t tps  MB/s
 42.47   0  0.00
 64.00 533 33.29
 64.00 536 33.50
 64.00 533 33.29
 64.00 536 33.49
 64.00 533 33.28
 64.00 536 33.50
 64.00 531 33.19
 64.00 531 33.18
 64.00 525 32.82
^C 64.00 532 33.26


Isto já mostrou uma vantagem do leitor USB 3.0, pelo menos deste leitor, sobre o leitor USB 2.0, mesmo em uma interface USB 2.0.

Ele fez, segundo o dd, 33.21 MB/s, que foi coerente com o resultado do iostat, e é 68% maior do que o leitor USB 2.0 fez, mas é 42% do resultado quando ligado a uma interface USB 3.0.

Conclusões intermediárias

Com o que foi colocado acima já é possível ver que vale a pena ter um leitor de cartões USB 3 e cartões rápidos. Esta combinação pode ser muito importante para quem precisa ou quer ter um ciclo de trabalho rápido. Fotógrafos de esporte, dança etc, que fotografam muito e precisam entregar rapidamente podem se beneficiar com isto.

Para quem fotografa pouco, só de vez em quando etc, este leitor ainda pode ser considerado como caro, como um luxo. Ainda mais se não tem obrigação de entregar rapidamente o conteúdo, mesmo que fotografe muito.

Isto escrito acima está levando em conta que o computador em uso tenha uma interface USB 3. Se tiver somente interfaces USB 2.0 o ganho não será grande, e pode não valer muito a pena pelo custo. Mas se tem perspectiva de upgrade do computador, valerá a pena no futuro.

Bônus

Este é um leitor múltiplo, e o curioso é que foi reconhecido pelo sistema como se fossem várias unidades independentes, e não só um leitor.


Então fiz vários testes sobre a leitura de dois cartões ao mesmo tempo.

O resultado é que é possível ler um cartão SD e um Micro SD ao mesmo tempo, mas altamente desaconselhável se um dos cartões for lento. Se forem diferentes, ambos tem que ser muito rápidos para que a tenha uma boa taxa de leitura. E mesmo assim, não é uma soma direta das taxas dos dois cartões. Se fosse, claramente valeria a pena.

O teste e as explicações estão em "Lendo 2 cartões ao mesmo tempo com o Kingston FCR-HS4". Ficou algo pesado, portanto leia por sua conta e risco. Em caso de dúvidas e sugestões, pode colocar as perguntas nos comentários.


Aviso final

Não recebi nenhum patrocínio, nenhum tipo de incentivo, de nenhum dos fabricantes de cartões SD e de leitores de cartões, nem do site Boa Dica, nem de representantes comerciais etc, para escrever este texto.

Todos cartões e os leitores mencionados foram comprados com dinheiro do meu bolso, e buscando segundo os critérios explicados.

Já recebi, faz alguns anos, algumas canetas do Boa Dica como agradecimento por ter informado um erro sério no cadastro deles. Faz uns 15 anos que uso o site deles para pesquisa de preços e de produtos, e já usava quando recebi o brinde. Foi usando o site deles, como normalmente uso, que percebi o erro de cadastro. Eu uso e falo deles por prestarem um grande serviço para quem compra produtos de informática e fotografia, mas acho que o site deles precisa de melhoras.

Um comentário:

  1. Gostei muito da análise.

    Tem mais uma questão que eu levei em conta em 2017 para comprar um cabo USB3 mesmo com meu computador só tendo portas USB2.

    A qualidade do cabo era bem melhor que TODOS os USB2 que encontrei no mercado.

    Então, antes das USB3 se tornarem populares, comprar delas era mais fácil que ficar procurando USB2 de qualidade melhor no mercado.

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